O projeto visa o desenvolvimento das atividades tradicionais da nação Kariri-Xocó fortalecendo a
cultura indígena e assegurando a auto-sustentabilidade dos seus membros. Ele integra em simultâneo
a criação de arquivos, vídeos, reportagens fotográficas que serão utilizados para promover o auto-
conhecimento bem como para dotar a comunidade de novos meios de divulgação das suas práticas na
organização interna tribal e nas comunidades circunvizinhas microrregionais.
O patrimônio cultural dos Kariri-Xocó revela-se no artesanato, na agricultura e pesca tradicionais, na
visão comunitária do trabalho e na visão do seu meio ambiente. O nosso universo representa-se em
forma de círculo. Assim também é a nossa forma de viver e de se relacionar com outros povos vivendo
no mesmo horizonte. O projeto pretende resgatar esta memória coletiva multiplicando os encontros
entre os indivíduos, incentivando os jovens a se apropriar dos saberes tradicionais e apoiando com
meios técnicos e financeiros a produção e difusão cultural.
Trata-se também de auxiliar a população na distribuição desses bens para num primeiro plano dar
a conhecer a riqueza desta civilização e melhorar as relações entre comunidades indígenas e não
indígenas, e num segundo plano garantir condições de vida dignas para as famílias e a perenidade das
atividades. Sonhamos de ter um micro-ônibus itinerante (BusOca) viajará em todo o estado de Alagoas promovendo o intercâmbio cultural e apresentando produtos artesanais ou ervas medicinais, filmes documentários,
palestras e narração de histórias.
O projeto terá lugar na aldeia Kariri-Xocó, no Horizonte Circular da comunidade e restantes municípios
e povoados do Estado de Alagoas.
1 Aqui na aldeia quase nenhuma informação chega sobre editais, nos índios Kariri-Xoco recebemos
nos nosos emails informações do edital e ficamos muito felizes de perceber que existia para nos umapossibilidade de termos nosso patrimônio e sabedoria mais valorizado.
Geralmente os projetos que acontecem aqui na aldeia são impostos pelo governo, é para nos muito
grato podermos estar escrevendo o que nos mesmo queremos.
Nos KaririXOco conhecemos o Programa Cultura Viva e achamos muito importante a valorização que
pela primeira vez no Brasil esta acontecendo em referencia das culturais Populares. Nunca antes na
historia de nosso povo tivemos uma oportunidade como esta. Queremos não so realizar este projeto
pelos benefícios que faremos a nosso povo mas também para podermos interagir socialmente com o
Brasil e mudar aquela idéia que tem de nós de que não somos capazes.
Há vários anos nossa comunidade se reúne nos rituais sagrados e conversa sobre as nossas
problemáticas. Como visão cultural nosso mundo é um “ Horizonte Circular”, de cor azul com a
Aldeia Kariri-Xocó no centro do universo tribal, com as populações não-indígenas, as cidades, o meio
ambiente e o Rio São Francisco passando pelo meio completando esse ecossistema. Historicamente
essas populações se relacionavam pelas trocas com produtos culturais de artesanato e cerâmica. Aqui
na tribo também atendemos várias pessoas de outras comunidades da região para fazer trabalhos de
cura com ervas medicinais. Os mais idosos sempre apontam a perda das tradições como um ponto
a prestar atenção. Percebemos que muitos índios estão trocando nossos costumes e enfraquecendo
assim nossa identidade.
O grupo de conselheiros e lideranças está sempre a pensar nos problemas atuais e no futuro de nossa
comunidade indígena.
Sonhamos com a reconquista da nossa autonomia para voltarmos a ter orgulho dos nossos
conhecimentos e sabedorias.
Assim quando tomamos conhecimento deste edital fizemos uma reunião comunitária e discutimos a
possibilidade de participar para reforçarmos nossas atividades culturais praticadas desde sempre. Com
este projeto podemos fazer com que os jovens despertem para a defesa e proteção de nossa cultura,
praticando as atividades do nosso povo indígena, continuando os cantos, as danças, as pinturas
corporais, o artesanato e artes cerâmicas.
Toda a nossa aprendizagem é baseada no círculo. O círculo do nascimento, crescimento e
desenvolvimento que culmina com a evolução. Para ser um pescador inicia-se a aprendizagem com a
criança fazendo artefatos de pesca construindo anzóis, redes, armadilhas. E quando adultos tornam-se
Hábeis pescadores, fechando assim o círculo da pesca. Para ser uma ceramista as meninas aprendem
com as mães a arte de modelar o barro, aprendem técnicas tradicionais de confeccionar potes,
panelas, frigideiras e de pintura dos objetos. Mas a sua aprovação como ceramistas é quando se
tornam adultas dominando toda a arte e fechando assim o círculo de cerâmica.
Este projeto é importante porque ele vai dar continuidade à formação dos círculos da vida da cultura
indígena.
Por outro lado, neste projeto podemos ser nós os produtores, diretores, jornalistas, escritores e
editores de nossa própria história e cultura garantindo a fidelidade para com a sabedoria ancestral.
O estado de Alagoas tem mais de 14.000 indígenas e ainda hoje somos invisíveis a população.
O estado precisa nos dar a possibilidade de circularmos para nós mesmos mostrarmos a nossa cultura,
não só obtendo o reconhecimento e respeito mas partilhando com todos nós o rico patrimônio.
Nosso patrimônio indígena é patrimônio de todos nós Alagoanos, é motivo de orgulho para todos nós
brasileiros e deveria também ser considerado como um fator de desenvolvimento humano para todo o
Planeta.
Coordenação do Horizonte Circular .
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